terça-feira, 3 de maio de 2016

O PADRE CÍCERO E A IGREJA CATÓLICA

A RECONCILIAÇÃO DA IGREJA COM O PADRE CÍCERO

            Quando ouvi a notícia divulgada pelo bispo diocesano Dom Fernando Panico, do recebimento da carta do Vaticano, na qual a Igreja explicitava sua reconciliação com o Padre Cícero, a primeira pessoa que lembrei foi do Padre Neri Feitosa. Ex-vigário de Santana do Cariri, e primeiro a se interessar pela causa da “mártir Benigna” no final da década de 70; batalhador, fiel e vocacionado pastor; escritor e grande defensor do vigário sertanejo Cícero Romão Batista. Este fato último se concretiza em seus diversos livros publicados que falam sobre o revolucionário padre: “Eu defendo Padre Cícero”, “As virtudes do Pe. Cícero”, “O Padre Cícero e a opção pelos pobres”, “Padre Cícero, Vítima do Autoritarismo”, “A pregação do Padre Cícero”, “A reabilitação do Pe. Cícero”, dentre outros.
“É inegável que o Padre Cícero Romão Batista, no arco de sua existência, viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo e, por isso mesmo, desde o início, foi compreendido e amado por este mesmo povo”.
“No momento em que a Igreja inteira é convidada pelo Papa Francisco a uma atitude de saída, ao encontro das periferias existenciais, a atitude do Padre Cícero em acolher a todos, especialmente aos pobres e sofredores, aconselhando-os e abençoando-os, constitui sem dúvida, um sinal importante e atual”.
Com as citações acima e muitas outras que compunham a longa carta enviada pelo Papa Francisco, por intermédio do cardeal Pietro Parolin, está clara a reconciliação da Igreja Católica com o “Padrinho” Cícero, que por intransigências, ambiguidades e contingências da época, foi perseguido e perdeu seus misteres sacerdotais. E se houve problemas com o Padre Cícero e com o Juazeiro, não foi o Padre Cícero Romão quem criou o problema e muito menos o povo, mas a Igreja oficial por falta de tática de abordagem; não só a autoridade criou o problema, mas desencadeou o processo de reação popular. “Não houve e não há nada incontrolável em Juazeiro do Norte; o que há em Juazeiro é um curso caudaloso à espera de orientação inteligente e psicológica. Ninguém diga que o povo do Padre Cícero é desobediente e teimoso, supersticioso e fanático; o povo do Padre Cícero espera ser conduzido “com amor” para o rumo certo, em âmbito diocesano.”
Diante desse fato histórico e nobre por parte da Santa Sé, esperado há décadas, é preciso que se tenha o discernimento de que “REABILITAÇÃO” é recuperação de ordens que estavam suspensas. “RECONCILIAÇÃO” é apagar qualquer oposição à ação do Padre Cícero. “A Diocese de Crato deu entrada ao processo de reabilitação pelo fato de o Padre Cícero ter morrido suspenso de ordem, porém como o padre já havia falecido e as punições cessadas, não tinha o que o Papa reabilitar. A Reconciliação é mais ampla que a Reabilitação pois, é uma aceitação e reconhecimento dos frutos ‘produzidos’ através das romarias e devoção ao padre Cícero, propiciando uma maior aproximação dos romeiros com toda a Igreja Católica.”


RAIMUNDO SANDRO CIDRÃO - Historiador 

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