A
RECONCILIAÇÃO DA IGREJA COM O PADRE CÍCERO
Quando ouvi a notícia divulgada pelo bispo diocesano Dom
Fernando Panico, do recebimento da carta do Vaticano, na qual a Igreja
explicitava sua reconciliação com o Padre Cícero, a primeira pessoa que lembrei
foi do Padre Neri Feitosa. Ex-vigário de Santana do Cariri, e primeiro a se
interessar pela causa da “mártir Benigna” no final da década de 70; batalhador,
fiel e vocacionado pastor; escritor e grande defensor do vigário sertanejo
Cícero Romão Batista. Este fato último se concretiza em seus diversos livros
publicados que falam sobre o revolucionário padre: “Eu defendo Padre Cícero”, “As
virtudes do Pe. Cícero”, “O Padre Cícero e a opção pelos pobres”, “Padre
Cícero, Vítima do Autoritarismo”, “A pregação do Padre Cícero”, “A reabilitação
do Pe. Cícero”, dentre outros.
“É
inegável que o Padre Cícero Romão Batista, no arco de sua existência, viveu uma
fé simples, em sintonia com o seu povo e, por isso mesmo, desde o início, foi
compreendido e amado por este mesmo povo”.
“No momento em que a Igreja inteira é convidada pelo Papa
Francisco a uma atitude de saída, ao encontro das periferias existenciais, a
atitude do Padre Cícero em acolher a todos, especialmente aos pobres e
sofredores, aconselhando-os e abençoando-os, constitui sem dúvida, um sinal
importante e atual”.
Com as citações acima e
muitas outras que compunham a longa carta enviada pelo Papa Francisco, por
intermédio do cardeal Pietro Parolin, está clara a reconciliação da Igreja
Católica com o “Padrinho” Cícero, que por intransigências, ambiguidades e
contingências da época, foi perseguido e perdeu seus misteres sacerdotais. E se houve problemas com o Padre Cícero e
com o Juazeiro, não foi o Padre Cícero Romão quem criou o problema e muito
menos o povo, mas a Igreja oficial por falta de tática de abordagem; não só a
autoridade criou o problema, mas desencadeou o processo de reação popular. “Não
houve e não há nada incontrolável em Juazeiro do Norte; o que há em Juazeiro é
um curso caudaloso à espera de orientação inteligente e psicológica. Ninguém
diga que o povo do Padre Cícero é desobediente e teimoso, supersticioso e
fanático; o povo do Padre Cícero espera ser conduzido “com amor” para o rumo
certo, em âmbito diocesano.”
Diante desse fato histórico e nobre por parte da Santa Sé,
esperado há décadas, é preciso que se tenha o discernimento de que “REABILITAÇÃO”
é recuperação de ordens que estavam suspensas. “RECONCILIAÇÃO” é apagar
qualquer oposição à ação do Padre Cícero. “A Diocese de Crato deu entrada
ao processo de reabilitação pelo fato de o Padre Cícero ter morrido suspenso de
ordem, porém como o padre já havia falecido e as punições cessadas, não tinha o
que o Papa reabilitar. A Reconciliação é mais ampla que a Reabilitação
pois, é uma aceitação e reconhecimento dos frutos ‘produzidos’ através das
romarias e devoção ao padre Cícero, propiciando uma maior aproximação dos
romeiros com toda a Igreja Católica.”
RAIMUNDO SANDRO CIDRÃO - Historiador
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