PATRONA DA CADEIRA Nº 12, OCUPADA PELO ACADÊMICO RAIMUNDO
SANDRO CIDRÃO - ALB/SECCIONAL ARARIPE-CE.
Generosa Amélia da Cruz, filha de
Francisco da Cruz Neves e Raimunda Carcelina da Cruz, nasceu no dia 22 de junho
de 1872, em Redenção-CE, antiga Acarape, cidade conhecida por “Roseiral da
Liberdade”, pelo fato de em 1883, ali ter sido libertados todos os seus
escravos, servindo de exemplo pioneiro. Teve seis irmãos, e mais quatro do
segundo casamento de seu pai com Mariquinha Leite Cruz.
Contam seus contemporâneos,
familiares, amigos e todos que a conheceram e conviveram com esta
extraordinária mulher, que eram múltiplas suas qualidades. Possuidora de
convicções e valores religiosos muito fortes, Generosa Amélia era uma pessoa
devocionada, corajosa, determinada, solidária; rígida e ao mesmo tempo afável.
R
Descendente da árvore genealógica dos
“Terésios” - nome dado à estirpe dos familiares do Engenho de Santa Tereza, do
município de Missão Velha -, aos 15 anos de idade Generosa Amélia casa-se com
seu tio Felinto da Cruz Neves, com então 30 anos. Fato ocorrido na cidade de
Crato-CE, no dia 19 de maio de 1888, coincidentemente seis dias após a
promulgação da Lei Áurea, pela Princesa Isabel. Julgando-se amadurecida o
bastante, achava estar pronta para assumir as obrigações de cônjuge e dona de
casa, ao lado de um homem trabalhador; bem sucedido agricultor e pecuarista;
influente politicamente, na bucólica e emergente cidade de Santana do Cariri.
Para Santana trouxe os sonhos de uma jovem e dedicada esposa e as lembranças de
Redenção e seus primeiros albores na serrana Acarape.
A Casa Grande, marco da arquitetura
neoclássica construída pelo coronel Felinto, passa a ser seu lar, o qual
dividia com empregados e parentes. Esse local também se tornou centro das decisões
sociopolíticas do município; por onde passaram governadores, prefeitos,
deputados, senadores, militares, bispos, padres, religiosos e todos os filhos
de Senhora Sant’Ana, que diariamente enchiam esta “casa do povo”,
principalmente a gente simples e humilde.
No ano de 1936, enfrentou o maior
desafio de sua vida: a morte do seu marido, Felinto da Cruz Neves, coronel da
Guarda Nacional. Na tarde de eleições do dia 29 de março, candidato já eleito
pelo Partido Republicano Trabalhista, apoiado pela LEC - Liga Eleitoral
Católica, foi traiçoeiramente assassinado, por plano previamente traçado por
seus opositores e adversários políticos.
Viúva e sem filhos, tornou-se uma
mulher triste, mas de cabeça erguida, cumprindo e fazendo cumprir o desejo do
seu marido de que “não queria vingança”. E assim foi feito. Dedicou-se a dar
aulas gratuitamente para jovens, bem como de catecismo para as crianças em
preparação para a primeira comunhão. Encontrou no recolhimento, na oração e nos
afazeres da matriz local, o lenitivo para aplacar a dor de sua solidão.
Nomeada prefeita de Santana do
Cariri-CE, no dia 22 de junho de 1936, quatro meses após o rude golpe da morte
do Coronel Felinto, Dona Generosa, como era chamada, assume os destinos do
munícipio e o compromisso em dar continuidade ao trabalho do esposo, fazendo
muitos amigos em sua vida pública. Exerceu sua administração municipal com
altivez, bom senso e sabedoria.
Naqueles recuados tempos, no qual o
papel da mulher se restringia às tarefas domésticas e do lar, enfrentou o
gigantesco trabalho de administrar pioneiramente um município, passando para os
anais da história política como a primeira prefeita de Santana, do estado do
Ceará, e a segunda do Brasil. Um verdadeiro orgulho para todos os filhos das
terras santanenses.
Após o cumprimento dessa missão
desafiadora, mormente para uma mulher naquela época e naquelas circunstâncias,
que se prolongou até o dia 31 de dezembro de 1938, sob o comando de Getúlio
Vargas e do Estado Novo, e, às vésperas da Segunda Grande Guerra Mundial,
Generosa Amélia da Cruz resolveu afastar-se do envolvimento direto com a
política. Passou, então, a poiar e incentivar parentes e correligionários, preparando-os
para as mudanças que certamente haveriam de acontecer na composição das forças
políticas do estado.
Para minimizar a solidão dedicou-se a
ensinar aos jovens e a dar aulas de catecismo, em sua própria casa; aos ensaios
da coroação, lapinha e das festas da padroeira; aos cânticos e hinos da nossa
cultura religiosa. Devotou especial carinho pela Cruzada Eucarística, que tinha
o nome de Santa Terezinha, por quem nutria fervorosa devoção, assim como aos
cuidados com seu altar na Igreja Matriz de Senhora Sant’Ana, onde revigorava
suas forças e encontrava a paz.
Velha e adoentada, aleijada de uma
perna, quase cega, andando auxiliada por caridosas mãos, partiu para Juazeiro
do Norte, com o objetivo de ter uma morte tranquila, e ficar com seus
familiares nos últimos meses de vida. Percebeu que seu acerto de contas com o
Criador estava próximo. Com humildade e resignação se preparou para sua última
viagem.
Com sapiência e justiça, em seu
testamento, deixou o Casarão para a Diocese de Crato, para fins religiosos e
culturais. A Diocese, alegando não ter recursos para sua manutenção, o devolveu
à família “Cruz”. Como expressava esse
documento, nesse caso ficaria o imóvel, que outrora foi lar, templo, escola e
fortaleza, como um bem perpétuo para os familiares, que fosse passado de
geração para geração.
Dona Generosa veio a falecer, lúcida
e serenamente no dia 18 de agosto de 1961, com 89 anos. Seu corpo encontra-se
sepulto no Cemitério São Miguel em solo santanense, no jazigo da família.